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Não podemos perder os "Guimarães Rosa" das dislexias

  • Foto do escritor: Maria Silvana Alves
    Maria Silvana Alves
  • 9 de jun. de 2021
  • 2 min de leitura

Como assim, Sil? Guimarães Rosa também era disléxico?

Não, pessoal! Vou explicar!

Trabalhando com os terceiros anos sobre as fases do Modernismo e alguns contos, foi inevitável para mim fazer uma analogia entre uma das características tão peculiares do grande escritor Guimarães Rosa - os neologismos nos clássicos - com a fala de meus pequenos com dislexia do desenvolvimento. Além disso, o jeito questionador e filosófico do autor nos faz lembrar de muitos de nossos ninos e ninas que apresentam o transtorno. Essa semana, por exemplo, tive que explicar por que "cola" não se chamava "grudenta" ou " tesoura" não era "bico de papagaio" (pelo formato do bico aberto) e ainda "eu troco o m pelo n porque eles são irmãos gêmeos", entre tantos outros vocábulos usados nesse código tão particular utilizado por alguns disléxicos. Poderia ser um "dislexês"? Não posso afirmar, mas o mesmo encantamento que sinto nas narrativas de Guimarães o tenho nos relatos dentro dos espaços clínicos quando estou atendendo. Esse jeito de lidar com as palavras, brincar, fazer neologismos e se divertir trazendo outras semânticas para os léxicos que, para alguns deles, fariam muito mais sentido e "tornariam a vida muito mais simples", como ouvi um dia desses. A gente sabe que muitos nomes atribuídos a objetos e ações eram e são atribuídos de forma arbitrária seja para homenagear quem o inventou, seja pela etimologia da palavra e como alguns disléxicos apresentam uma grande dificuldade para nomear os objetos por não encontrarem uma relação significativa entre determinado objeto e a palavra que o nomeia, atribuem um nome que acreditam fazer sentido. Assim, não podemos perder esses "Guimarães" perdidos por aí, "não podemos perder essas estrelas na Terra", como nos pede o professor Nikumbh, no filme Taare Zameen Par- Como estrelas na Terra. São eles que, incansavelmente observam detalhes que não observamos, admiram e apresentam essa visão inusitada e poética do mundo. São eles que nos fazem questionamentos levados pela mais alta filosofia. Nós, adultos, não podemos empanturrá-los com modelos que acreditamos ser perfeitos e impedi-los de agirem segundo sua própria natureza.



 
 
 

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